AS
LUTAS SOCIAIS NO BRASIL ATUAL
“Em breve, a bruxa petista poderá voar em sua vassoura estrelada e derramar a poção mágica sobre as cabeças de todos os esfomeados e miseráveis do Brasil e assim seremos todos felizes sob o capitalismo humanizado do PT.”
"Descobrimos, assim, que o capitalismo é um mal que, ao mesmo tempo, é o seu próprio remédio e que os “médicos petistas” vivem, da eterna reprodução da doença e da sua “cura”. Esta é apenas mais uma faceta do neopopulismo petista".
A sociedade brasileira vem sendo
palco de uma crescente onda de violência institucional sobre as camadas
desfavorecidas da população. A
“violência” passa a ser o tema da “moda” tanto nos meios acadêmicos quanto nos
meios de comunicação de massas. Cabe à classe dominante e seus ideólogos
deturparem tudo: elaboram um conjunto de ideias que possuem como
características fundamentais trocar a análise do processo pela reificação do
efeito e por observar somente o que é manifesto e nunca o que está latente.
Assim, o extermínio de meninos de ruas e o massacre de índios se tornam efeitos
reificados, ou seja, esquece-se do seu processo de produção; das suas causas, e
assim a solução do problema fica fácil: coloquemos os meninos de rua na escola
(O “gênio” que propôs isto foi o governador Brizola) e demarquemos as terras
indígenas! O fato de que continuará havendo a produção de meninos de rua e de
garimpeiros com vontade e necessidade de invadir terras indígenas é esquecido.
Lembrá-lo, obviamente, nos levaria longe demais e os guardiões do templo do
capitalismo não hesitariam em nos acusar de “dogmáticos”, “esquerdistas” e
“agitadores”. O outro fato, não tão visível, é que o extermínio de índios e
meninos de rua não começou hoje e que a violência manifesta se torna tema
polêmico no mass média enquanto que a violência latente e/ou subterrânea contra
os pobres, a mulher, os trabalhadores sem-terra, os estudantes, etc. não são
“vistos” pela nossa “democrática” imprensa. A única “violência” que aparece é a
violência física (ou melhor, parte dela) e não a violência simbólica, econômica,
política, social, entre outras. Para nós, a violência, seja ela qual for, só
pode ser compreendida num contexto universal e perpassando o conjunto das contradições
sociais e é neste sentido que vamos analisar a violência no Brasil.·.
Segundo
dados de 1992, no campo brasileiro existe uma população rural que expressa,
aproximadamente, trinta por cento da população brasileira. A violência no campo
atinge milhares de pessoas e envolve não apenas índios e garimpeiros, mas
também camponeses, grileiros, latifundiários, seringueiros, etc. As lutas
sociais no campo tem, no final das contas, um sentido único: LUTA PELA TERRA. A
estrutura agrária brasileira está voltada para a produção com base na
monocultura visando a exportação e convivendo com uma enorme quantidade de
terras improdutivas que esperam sua valorização. A produção voltada para a
exportação, além da destruição do meio ambiente, aumenta o preço dos produtos
no mercado interno (atingindo assim a população urbana) e reforça a
concentração de terras, criando a miséria e a fome dos camponeses e outros
trabalhadores rurais. As terras improdutivas reforçam isto e os únicos que se
beneficiam com elas são os seus proprietários. Por conseguinte, a única forma de
se resolver esta questão é transformar as relações de propriedade no campo, ou
seja, realizar uma REVOLUÇÃO AGRÁRIA. A coletivização das terras e a autogestão
nas unidades de produção são necessárias tanto para resolver os problemas
ambientais (fim da monocultura, utilização de tecnologias alternativas, etc.)
quanto para resolver os problemas sociais (produção voltada para o mercado
interno, fim do desemprego, fome, miséria no campo, fim dos conflitos entre
setores explorados no campo, etc.) e, além disso, servem como ponto de partida
para abolir a oposição entre cidade e campo, com a desurbanização da cidade e a
desruralização do campo. Neste sentido, as lutas camponesas e de outros setores
explorados no campo ganham uma importância estratégica para o movimento
socialista libertário.
As
lutas sociais no campo devem ser articuladas com as lutas urbanas. Estas
assumem uma complexidade e variedade enormes. Elas se referem desde a questão
da moradia até a questão da administração municipal, passando pela questão do
transporte coletivo, das condições de saneamento, entre outras. As lutas
urbanas são, essencialmente, lutas contra a divisão capitalista do espaço
e, consequentemente, luta pela autogestão do espaço urbano. A passagem
de uma para a outra só pode ocorrer com uma revolução urbana.
A
divisão capitalista do espaço apresenta-se como uma extensão das relações de produção
capitalistas e tem como um de seus fundamentos a propriedade privada do solo
urbano. São as grandes empresas e os grandes proprietários que, com o seu poder
econômico, determinam a forma de divisão do espaço. Esta divisão serve para
atender os seus interesses econômicos e os “benefícios urbanos” que as
administrações municipais fornecem são dirigidos para aqueles que possuem o
“poder profano do dinheiro”, embora este, há muito tempo, tenha se tornado
“sagrado” para as prefeituras, inclusive as “ditas” de esquerda.
Trata-se,
portanto, de exigir o uso social do solo urbano e assim combater a especulação
imobiliária e os privilégios da classe dominante. A LUTA PELA MORADIA deve ter
como ponto básico de seu programa o lema “casa para todos significa que cada um
deve ter a sua casa e que NINGUÉM deve ter duas ou mais casas” e com isso se
questiona a propriedade burguesa e seu caráter antissocial. As outras formas de
lutas urbanas devem saber postular a revolução urbana juntamente com propostas
que facilitem a sua concretização.
As
lutas sociais no Brasil também são travadas envolvendo o movimento das
mulheres, o movimento ecológico, o movimento pela saúde coletiva, o movimento
negro, o movimento estudantil e outros. Todos seguem sua dinâmica própria e,
quando se radicalizam, colocam em questão aspectos da sociedade capitalista.
Entretanto, estes movimentos, juntamente com os movimentos sociais urbanos e
rurais, não podem revolucionar a sociedade isoladamente. Por isso, torna-se
necessário a sua articulação com o movimento operário. É através da união destes
movimentos com o movimento revolucionário do proletariado que se pode construir
um “bloco revolucionário” e assim adquirir uma força política de peso no
cenário nacional e elevar o nível da luta revolucionária.
Isto abre perspectivas para apresentar propostas alternativas
nas questões polêmicas de repercussão nacional e desmascarar a ideologia
dominante. Tal é o que ocorre, por exemplo, com a campanha contra a fome e a
miséria, outra reificação de efeitos. Embora a fome e a miséria tenham chegado
ao Brasil desde que as caravelas portuguesas aqui chegaram, só agora o
sociólogo Herbert de Souza e o Partido dos Trabalhadores a perceberam. Qualquer
cristão sabe que a árvore do conhecimento existe desde que Deus criou o mundo,
mas somente agora os filantropos pequeno-burgueses da sociologia e do PT
tiveram acesso a ela. Entretanto, a covardia pequeno-burguesa nunca permite
todo o conhecimento, pois apenas parte dele pode ascender à consciência. Assim,
conhecemos os efeitos e desconhecemos as CAUSAS. Disso resulta que devemos
combater a fome e a miséria como se fossem “dados” (até um sociólogo
positivista e direitista como Robert Merton sabe que “os dados não são dados,
são construídos”) e por isso a produção da fome e da miséria é “esquecida” e a
solução do problema se encontra na “caridade”.
Marx
criticou alguns dos “Socialistas Românticos” por eles serem filantropos
pequeno-burgueses. Estes consideravam a classe trabalhadora como uma “classe
miserável” incapaz de se libertar por si mesma. A solução, segundo eles, seria
elevar o nível da sua consciência, através da “educação” e da “razão” (que se
tornaram hoje novas formas de dominação) para assim acabar com os males do
capitalismo e implantar o socialismo. Hoje, os filantropos pequeno-burgueses da
sociologia e do PT querem acabar com os males do capitalismo sem acabar com o
capitalismo. Ou seja: A filantropia pequeno-burguesa anda para trás. Eles não
combatem a produção capitalista da fome e da miséria, mas apenas a fome e a
miséria já constituídas. A doação de alimentos não perecíveis pode deixar
muitos pequeno-burgueses com a “consciência tranquila”. Como se resolverá o
problema da fome? Um pouco de caridade, uma pitada de reforma agrária, uma
colher de distribuição de renda, uma dose de “alimentos não perecíveis” e
pronto, o caldeirão da bruxa já possui todos os ingredientes necessários para
preparar a poção mágica que acabará com a fome e a miséria. Basta remexer tudo
e colocar no fogo e logo estará pronto. Em breve, a bruxa petista poderá voar
em sua vassoura estrelada e derramar a poção mágica sobre as cabeças de todos
os esfomeados e miseráveis do Brasil e assim seremos todos felizes sob o
capitalismo humanizado do PT.
Descobrimos, assim, que o capitalismo é um mal que, ao mesmo tempo, é o
seu próprio remédio e que os “médicos petistas” vivem, da eterna reprodução da
doença e da sua “cura”. Esta é apenas mais uma faceta do neopopulismo petista.
A
formação de um BLOCO REVOLUCIONÁRIO é hoje necessária para combater tanto a direita
quanto o bloco reformista, comandado pelo PT, que se revela um “direitismo
esclarecido”. O aumento da violência institucional contra as classes exploradas
poderá servir como “detonador” do processo revolucionário ou de um “ensaio
geral” e cabe aos militantes socialistas buscarem criar condições favoráveis
para a vitória do proletariado no seu enfrentamento com o capital e o estado
capitalista. Portanto, já sabemos o que devemos fazer.
Editorial
da Revista Ruptura, publicação do Movimento
Conselhista. Ano 1, Nº 02, Outubro de 1993.
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