KARL MARX: TEÓRICO DA AUTOGESTÃO
BREVE BIOGRAFIA
Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trèves, cidade ao sul da Prússia Renana, na fronteira da França, no dia 5 de maio de 1818. Filho de Herschel Marx, advogado e conselheiro da justiça, descendente de judeu, era perseguido pelo governo absolutista de Frederico Guilherme III. Em 1835 concluiu o curso ginasial no Liceu Friedrich Wilhelm. Ainda nesse ano e boa parte de 1836, Karl estudou Direito, História, Filosofia, Arte e Literatura na Universidade de Bonn.
No final de 1836, vai para Berlim, onde se propagam as ideias de Hegel, destacado filósofo e idealista alemão. Marx se alinha com os "hegelianos de esquerda", que procuram analisar as questões sociais, fundamentados na necessidade de transformações na burguesia da Alemanha. Entre 1838 e 1840, dedica-se a elaboração de sua tese, “A Diferença entre a Filosofia da Natureza em Demócrito e Epícuro” (1841).
Marx não é aceito nas universidades e começa a atuar como jornalista escrevendo artigos para publicação animada por ele e Arnold Ruge, os Anais Alemães, mas a censura impede sua publicação. Em outubro de 1842, muda-se para Colônia, e assume a direção do jornal Gazeta Renana, mas logo após a publicação do artigo sobre o absolutismo russo, o governo fecha o jornal. É expulso da Alemanha e vai para a França, com sua esposa Jenny e como Ruge funda a revista "Anais Franco Alemães", onde publica os artigos de Friedrich Engels. Marx publica "Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" e "Sobre a Questão Judaica". Logo é expulso da França e posteriormente da Bélgica, terminando por morar em Londres, Inglaterra. Participa da fundação e organização da AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores. Passa um período de sua vida na miséria e sobrevive dos poucos recursos de seus artigos em jornais e da ajuda de amigos e colaboradores. Na Inglaterra, publica parte de sua grande obra, O Capital.
Karl Heinrich Marx morreu em Londres, no dia 14 de março de 1883, em consequência de uma bronquite e de problemas respiratórios.
PRINCIPAIS OBRAS AUTOGESTIONÁRIAS
Marx tinha uma perspectiva crítica em relação ao utopismo. Crítico do socialismo utópico, que pregava uma nova sociedade, mas não observava os caminhos e agentes para sua constituição de forma concreta, apelando para soluções fantasiosas, como a “educação”, a “razão”, etc., ele escreveu pouco sobre a sociedade futura. Outro motivo para ser cauteloso em se tratando de discutir a sociedade do futuro, é devido sua tese de que a emancipação humana ocorre via revolução proletária e cabe ao proletariado mostrar o caminho concreto de sua realização. Nesse sentido, ele dedicou a maior parte de sua obra para compreender a história da humanidade e principalmente a sociedade moderna e as lutas de classes que tendem a engendrar o comunismo. Nesse sentido, produziu obras fundamentais como A Ideologia Alemã, Manifesto Comunista, A Miséria da Filosofia, O Dezoito do Brumário, entre outras.
A sua maior obra foi O Capital, que ficou incompleta. Ele, em vida, publicou apenas o volume 01 e os volumes 2 e 3 foram publicados por Friedrich Engels e o 4 por Karl Kautsky. Nessa obra, talvez a mais importante da sociedade moderna, ele aprofundou a análise do modo de produção capitalista, mostrando a essência da exploração dos trabalhadores assalariados produtivos pelo capital através da extração de mais-valor, bem como o processo de acumulação capitalista e suas tendências.
Assim, escreveu pouco sobre a sociedade futura, tendo trechos e observações espalhados por diversas obras, como A Ideologia Alemã, Manuscritos de Paris, Crítica ao Programa de Gotha, O Capital, Manifesto Comunista, entre diversas outras, incluindo cartas e textos curtos. As duas obras em que mais desenvolve sua análise da sociedade comunista são A Guerra Civil na França e Crítica ao Programa de Gotha. Na primeira ele analisa a primeira experiência autogestionária da história, a Comuna de Paris, mostrando seu caráter autogestionário e sua importância histórica universal; na segunda critica o programa do partido socialdemocrata alemão nascente e faz observações sobre o comunismo.
Marx não usou a expressão “autogestão”, que só vai surgir no Maio de 1968 na França, mas usou termos que possuem o mesmo significado: comunismo, autogoverno dos produtores, livre associação dos produtores.
A deformação do pensamento de Marx pelo pseudomarxismo e as pseudocríticas e críticas equivocadas de adversários políticos serviu para criar uma interpretação dominante do seu pensamento que o vincula com seus deformadores (Lênin, Stálin, Trotsky, Mao Tse-Tung, etc.), os produtores do pseudomarxismo, com o capitalismo de Estado da antiga URSS e semelhantes (Cuba, China, Leste Europeu, Albânia, etc.) e com o “autoritarismo”. Essa interpretação falsa e dominante apenas ofusca sua luta e contribuição para a teoria da autogestão social, a mais profunda, pois por menos que tenha escrito sobre a sociedade futura, fez toda uma análise profunda do capitalismo e suas tendências, entre outros aspectos, que são fundamentais para uma teoria da autogestão social. Os escritos em que faz referências ao comunismo, apesar de poucos, são fundamentais, pois rompem com o utopismo, como os modelos pré-fabricados por ideólogos e utopistas, e destacam elementos fundamentais, como a necessidade de pensar o agente da revolução, o proletariado, e suas experiências históricas, bem como ter cuidado com o processo da contrarrevolução e seus perigos e mecanismos para tentar enfraquecer tal tendência.
LINKS PARA LIVROS E ARTIGOS AUTOGESTIONÁRIOS
MARX, KARL. A Guerra Civil na França. Várias edições.
MARX, KARL. Crítica ao Programa de Gotha. Várias edições.
Veja também: Leitura recomendada e Textos, para mais indicações bibliográficas de/sobre Marx e a autogestão.